sábado, 14 de agosto de 2010

Talvez seja necessário um tempo

Estavam meio perdidos, em meio à 'Eu te amo'(s) sem credibilidade, amassos no escuro, mãos vorazes, vontades inéditas.
Ela estava confusa, como sempre, afinal, era ela, não se podia esperar de alguém tão previsível algo que não fosse à confusão.
Devo dizer que ela sempre se esforçava pra agradá-lo. Talvez gostasse dele, dos seus olhares dispersos, e suas brincadeiras que quase a faziam chorar. Talvez ela gostasse do toque das mãos dele sobre as suas, do toque dos dedos sobre sua pele, e o que arranhava sua barriga.
Talvez gostasse mesmo do modo suave e rude com que ele beijava seus lábios, do modo bruto como ele a empurrava sobre a parede, a prendia entre seus braços, o jeito como ele mordia seu pescoço, a forma como a tinha em seus braços e o clima despretensioso como prendia seu coração.
E apesar de tudo, ela sentia, às vezes, ele tão distante, como se não quisesse demonstrar, se gostava dela, talvez por medo, de se expor ou de ter que mentir.
Talvez a exposição fosse um pouco mais acalentadora, mas a mentira também bastaria.
Iria mascarar ao menos a indiferença por trás dos olhares. De ambos.
Mas veja bem, ele queria momentos de euforia, em que os carinhos haveriam de ser mais ferozes, mas ela ainda queria tempo. Não que não o desejasse, o queria, e muito.
Mas pra se amar tanto assim, não tem que existir confiança? Pra se ter confiança, não tem que amar? E me desculpe dizer, não tinham nenhum dos dois, e se tinham não era de modo consciente, responsável. Não eram responsáveis. Não pra mim.
E quais seriam enfim a consequências de um ato tão impulsivo e precoce? Ela só queria ser feliz. E ele, bem, não sei bem o que quer, nem sei se ele quer algo, algo concreto, algo de verdade. Algo além de dias juntos e prazeres momentâneos. Até porque não eram um casal convicto, desses que se beijam publicamente, se olham a todo o momento e andam de mãos dadas, talvez porque ambos achassem que isso constrangesse o outro. Ou talvez porque achassem cedo demais, mas nunca se é cedo ou tarde para demonstrações públicas de carinho. É tudo uma questão de tempo, tempo tátil, tempo hábil, tempo útil, sabe como é?
Talvez eles não tivessem tempo, ou experiência, o fato é, não sabiam bem como agir, ela por querer mais devagar, ele por querer mais rápido. Destoavam até mesmo no ritmo, já que já eram diferentes em quase tudo, na idade, na série escolar, nos gostos, no jeito. Fora inesperado que se dessem tão bem, e que fossem tão queridos um pelo outro.
Talvez ele devesse esperar, ou ela devesse ceder, talvez devessem tentar, ou quem sabe deveriam desistir agora, quando os corações ainda estão intactos por essa relação tão obviamente relativa.
Talvez fossem maduros, pudessem dispensar o tempo, dispensar as brigas que viriam, dispensar os votos e lutos por momentos que seriam memoráveis ou não, ou quem sabe viver tudo. Holanda, Espanha, tinham planos tão longínquos pra uma paixão que surgira há algumas semanas e por amor que não nascera há nem um mês.
Talvez isso, talvez aquilo, talvez devessem só tentar, deixar acontecer.
Pra talvez confirmar que a verdade seja, que talvez sejam jovens demais para saber amar.

3 comentários:

  1. Caramba Mari, lindo demais!

    adorei o jeito como descreveu a situação.

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  2. O Amor é díficil de ser 'confirmado'.
    Nem sempre o que se diz que é amor, realmente o é.
    :*

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  3. Amor... O verdadeiro está cada vez mais raro.

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