quinta-feira, 7 de julho de 2011

Só não sentia mais nada.



Há muito tempo Sophia era dessas garotas que se apaixonam facilmente, com um beijo, um abraço, uma frase ou o que for. Mas era frágil, chorava facilmente, tentava sempre agradar, evitava brigas, fazia de tudo pra ser boa naquilo que era, mesmo que não soubesse o que era, namorada, ficante ou amiga. Mas sempre queria que gostassem dela, e por um tempo até gostavam, mas talvez fosse boazinha demais, ninguém se interessava pelos seus defeitos, era sozinha, mal amada, por fim, abandonada, e todos diziam o quão perfeita ela seria, o quão boa e bonita ela era, mas não era digna de um sentimento que fosse recíproco, e doía, e muito, E ela chorava toda noite, quase sem ar, acordava com o olhos inchados e olheiras tão fundas quanto a melancolia que a tomava. Acabava escrava de remédios demais, álcool demais, cigarros demais, vergonha de menos, promiscuidade a mais, uma falsa superação. Dizia que não lembrava, até ter a primeira recaída e dali decair aos poucos, fechando a humilhação com mensagens bêbadas, impulsivas, telefonemas tristes, sadicamente engraçados. Disfarçava a tristeza no humor, dizia que não se importava enquanto sofria num canto qualquer, e se doava num lugar qualquer, beijava um garoto qualquer, era de fato, uma garota qualquer.
E talvez por cansaço, porque sim, estava exausta de rastejar, de sofrer, chorar, ficar horrorosa por não saber conquistar.
Assim parou. Parou de gostar, como se tivesse de fato esquecido, e se não era exatamente isso, era como ignorar, os vícios ajudavam a manter tudo longe, bem longe e indiferente, não ouvia mais as desculpas e nem sentia as lágrimas do seu coração, era forte agora, era fria, sozinha, não chorava mais, não procurava mais, não que não quisesse, pois queria, desesperadamente ela queria, amar alguém e ser amada, beijar alguém e ser beijada, desejar alguém e ser desejada, mas não era fácil assim, a reciprocidade não era seu forte. Se esforçava pra ser boa filha, boa amiga, boa irmã, porém não era nada além. Por vezes só queria um copo, um cigarro,uma boa música e um bom livro pra acalmar, pois já não tinha medo, nem insegurança, nem impulsividade, nem alegria, agonia, nada, não tinha nada, não que não amasse mais, só não sentia mais nada.

Um comentário:

  1. Nossa, tem certeza que a Sophia não se chama Sabrina? hahah, sério, eu estou sem palavras. Tudo o que você escreveu ai parece um resumo da minha vida. Tentar demais. Sofrer demais. Querer sempre agradar a quem não merece e consequentemente, quebrar a cara a todo momento. Sei exatamente o que é se sentir sozinha, com muitas pessoas ao redor, mas sozinha. Sei o que é querer ser desejada, amada e beijada. E sei que depois de um tempo cansamos e desistimos. Nos entregamos a uma solidão amargurante e já não conseguimos sentir mais nada. Tudo parece frio demais.
    Lindo texto, você escreve tão bem. Me faz viajar com suas palavras.
    Se cuida.

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