
Há muito tempo
Sophia era dessas garotas que se apaixonam facilmente, com um beijo, um abraço, uma frase ou o que for. Mas era frágil, chorava facilmente, tentava sempre agradar, evitava brigas, fazia de tudo pra ser boa naquilo que era, mesmo que não soubesse o que era, namorada,
ficante ou amiga. Mas sempre queria que gostassem dela, e por um tempo até gostavam, mas talvez fosse boazinha demais, ninguém se interessava pelos seus defeitos, era sozinha, mal amada, por fim, abandonada, e todos diziam o quão perfeita ela seria, o quão boa e bonita ela era, mas não era digna de um sentimento que fosse recíproco, e doía, e muito, E ela chorava toda noite, quase sem ar, acordava com o olhos inchados e olheiras tão fundas quanto a melancolia que a tomava. Acabava escrava de remédios demais,
álcool demais, cigarros demais, vergonha de menos, promiscuidade a mais, uma falsa superação. Dizia que não lembrava, até ter a primeira recaída e dali decair aos poucos, fechando a humilhação com mensagens bêbadas, impulsivas, telefonemas tristes, sadicamente engraçados. Disfarçava a tristeza no humor, dizia que não se importava enquanto sofria num canto qualquer, e se doava num lugar qualquer, beijava um garoto qualquer, era de fato, uma garota qualquer.
E talvez por cansaço, porque sim, estava exausta de rastejar, de sofrer, chorar, ficar horrorosa por não saber conquistar.
Assim parou. Parou de gostar, como se tivesse de fato esquecido, e se não era exatamente isso, era como ignorar, os vícios ajudavam a manter tudo longe, bem longe e indiferente, não ouvia mais as desculpas e nem sentia as lágrimas do seu coração, era forte agora, era fria, sozinha, não chorava mais, não procurava mais, não que não quisesse, pois queria, desesperadamente ela queria, amar alguém e ser amada, beijar alguém e ser beijada, desejar alguém e ser desejada, mas não era fácil assim, a reciprocidade não era seu forte. Se esforçava pra ser boa filha, boa amiga, boa irmã, porém não era nada além. Por vezes só queria um copo, um cigarro,uma boa música e um bom livro pra acalmar, pois já não tinha medo, nem insegurança, nem impulsividade, nem alegria, agonia, nada, não tinha nada, não que não amasse mais, só não sentia mais nada.